Cresce individamento dos clubes brasileiros. Fla é exceção
Uma reportagem especial feita pelo jornalista Roberto Maleson, do GE, mostra que os investimentos dos clubes da Série A na contratação de atletas atingiram o maior valor da série histórica em 2022. Foram 1,303 bilhão de reais – um aumento de 46% em relação a 2021. É o que aponta o relatório de 2023 produzido pelas consultorias Convocados, Galapagos e OutField.
O estudo revela ainda um crescimento de 8,9% na dívida líquida das equipes da elite do futebol brasileiro. Atlético MG, Corinthians e Cruzeiro apresentam os maiores passivos do país. Cuiabá, Goiás e Flamengo tiveram as maiores reduções do que devem de 2021 para 2022.
– Minha sensação foi de um ano sem surpresas. Os clubes que estavam bem seguiram bem, e os que estavam em dificuldades não tiveram melhorias relevantes. Mas o futebol retomou o caminho perdido na pandemia, recuperando receitas. Se posso dizer que algo incomoda é o aumento das dívidas. Já passamos da hora de solucionarmos esse problema – alertou Cesar Grafietti, sócio da consultoria Convocados.
Os clubes da Série A de 2022 gastaram um total de R$ 1,758 bilhão no ano passado com contratação de atletas, categorias de base e infraestrutura. Um aumento de 29% em relação aos R$ 1,358 bilhão investidos em 2021.
Quando coloca-se a lupa sobre esses valores é possível perceber que o grande responsável por isso foi a prioridade pela aquisição de novos atletas nos elencos. O montante destinados às categorias de base e infraestrutura permaneceu praticamente o mesmo de 2021.
O aumento dos gastos com o elenco profissional em 2022 foi puxado por dois times cariocas: Botafogo e Flamengo – 64% do valor incremental veio da dupla. Quase todos os clubes aumentaram os investimentos com o time principal no ano passado, com exceção de Atlético-MG, Bragantino, Grêmio e Plameiras.
É importante ressaltar, porém, que alguns clubes gastaram além do que podiam. A preocupação por uma melhora no desempenho esportivo no ano é um dos motivos para os dirigentes assumirem mais compromissos financeiros do que o recomendável.
O somatório da dívida dos clubes da elite ultrapassou a casa dos 10 bilhões de reais no último ano. Um aumento de 8,9% em relação aos 9,178 bilhões de 2021. São R$ 3,338 bilhões de passivos onerosos, R$ 3,233 bi de dívidas operacionais e mais R$ 4,147 bilhões em impostos e acordos. Isso tudo descontando os 718 milhões disponíveis em caixa.
A situação dos débitos de cada clube brasileiro varia bastante. A maioria aumentou o passivo de 2021 para 2022. Apenas Avaí, Coritiba, Cuiabá, Flamengo, Goiás e Juventude fugiram da regra e conseguiram diminuir o quanto cada um deve. Por exemplo, As dívidas do Coxa foram reduzidas graças ao processo de Recuperação Judicial ao qual o clube passou.
Na outra ponta, o Atlético-MG segue com a maior dívida do Brasil: R$ 1,498 bilhões de reais – número que cresceu 14% em 2022. Outro clube com passivos na casa do bilhão é o Corinthians, que viu suas obrigações aumentarem 7% de 2021 para 2022.
Vale destacar que os números acima são feitos com base nos próprios balanços dos clubes, mas analisados com critérios técnicos específicos e diferentes de apresentados por algumas equipes. Um exemplo é a exclusão da posição de disponibilidades (caixa) da soma total das dívidas. O São Paulo discorda dos valores apresentados e relata que a dívida caiu de R$ 642,4 milhões para R$ 586,5 milhões em 2022.
Os números das SAFs são a soma entre suas dívidas e as dívidas das associações. Especialista em gestão e finanças do esporte, Cesar Grafietti ponderou os riscos desses grandes passivos:
– Alguns clubes precisam de maior atenção ao endividamento. Há riscos de clubes ficarem insustentáveis por conta da necessidade de honrar dívidas. Infelizmente, os exemplos de Botafogo, Cruzeiro e Vasco parecem pouco. Os clubes viraram SAF, e ainda assim mostram como é complexo recuperar a competitividade perdida. Quem não se atentar a isso e acreditar que haverá uma saída mágica pode ter problemas insolúveis.
O estudo fez ainda uma projeção para avaliar quantos anos cada clube levaria para conseguir acabar com as dívidas
Entre os clubes, Flamengo e Corinthians se destacaram com as duas maiores receitas recorrentes da temporada: R$ 1,043 bilhão e R$ 633 milhões, respectivamente. Com bom desempenho na Libertadores e no Brasileirão, o Fortaleza também demonstrou bons números, com aumento de 36% nas cifras (240 milhões de reais).
Ao analisar as receitas totais, o Flamengo segue destoando dos demais clubes. Com R$ 1,170 bilhão arrecadados em 2022, o time carioca teve uma receita de 379 milhões de reais a mais do que o segundo melhor (Palmeiras). Só o Flamengo foi responsável por 16,9% do total acumulado pelos clubes da Série A no ano passado.
Existe uma clara concentração de receitas na elite do Brasil. Flamengo, Palmeiras, Corinthians e São Paulo foram responsáveis por 49% do total arrecadado. Na sequência, um bloco de sete clubes representou 35% das cifras totais: Atlético-MG, Internacional, Bragantino, Fluminense, Santos, Athletico-PR e Fortaleza. Logo, apenas 11 clubes concentram 84% das receitas.