‘Linha de desmontagem’ de plataforma vai ser estruturada pelo Porto do Açu
Empresa recebe a P-33 e prepara área de negócio voltada para descomissionamento
Fonte: Valor Econômico
Recentemente, a Petrobras iniciou seu programa para desativar mais de 50 plataformas até 2034 devido ao fim da produção de campos de petróleo ou da vida útil das unidades. A atividade conhecida como descomissionamento ganhou importância por questões ambientais e chamou a atenção do Porto do Açu. A empresa firmou contrato com a estatal para realizar, inicialmente, a desintegração de três equipamentos da Petrobras e, em paralelo, está desenhando uma “linha de desmontagem” de plataformas, como uma nova unidade de negócio da empresa controlada pela Prumo Logística.
O Porto do Açu vai desmontar as plataformas P-26, P-33, P-37, que foram vendidas para a Gerdau como sucata e cujo aço será utilizado para a fabricação de novos subprodutos. A P-33, primeira a ser desmantelada, atracou no Porto do Açu, no dia 14 de fevereiro, para serviços iniciais. O acordo inclui disponibilidade de atracação no cais, limpeza de casco e destinação de efluentes e resíduos da unidade.
De acordo com o presidente do Porto do Açu, Eugênio Figueiredo, na sua primeira entrevista após assumir o cargo em janeiro, o contrato é o primeiro passo para a criação de um “hub de descomissionamento sustentável”, com áreas voltadas para “estacionamento” das plataformas e para a desmontagem.
O descomissionamento de plataformas se tornou um serviço – e entrou na mira do Porto do Açu – porque as petroleiras são consideradas como responsáveis por esses ativos mesmo quando as unidades saem de cena, com potenciais danos e riscos às políticas ESG. O risco ambiental da desmontagem não é mais transferido automaticamente ao comprador da plataforma que será transformada em sucata, disse Figueredo.
Logo, o serviço não trata apenas do descarte dos materiais, mas sim do tratamento dado a todo o processo, que inclui limpeza de estruturas, destinação adequada de efluentes (como resíduos de óleos e produtos químicos) e a própria desmontagem.
Até 2028, a Petrobras deve desativar 23 plataformas, de acordo com o plano estratégico 2024-2028. Algumas delas, por exemplo, serão substituídas por novas unidades que vão atuar em planos de revitalização da Bacia de Campos. No mercado nacional, ao todo, há 58 plataformas de petroleiras, além da Petrobras, elegíveis para deixar a operação nos próximos dez anos, de acordo com levantamento do próprio Porto do Açu.
“Há um tamanho de mercado muito interessante, em termos nacionais e globais, para ser atacado”, afirmou Figueiredo. “Estamos fazendo estudos e discussões para avançar nessa cadeia, com mais serviços sendo executados no Porto do Açu.”
Entre as vantagens competitivas que o porto passa a ter estão a localização, próxima de campos de petróleo nas bacias de Campos e Santos, e a distância entre unidades de siderúrgicas.
O diretor de administração portuária do Porto do Açu, Vinícius Patel, contou que o plano é estruturar uma área com capacidade para atracação de até oito unidades, podendo chegar até dez, dependendo do desenho dos ativos. Esse local traria como vantagem para as petroleiras a possibilidade de acelerar a desconexão dos campos.
“Um item muito importante é que, ao fazer isso numa estrutura atracada, há aumento do nível de segurança e redução de custo para um mercado que tem prazos a cumprir com a ANP [Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis], que tem prazos para a revitalização de campos”, disse Patel.
Os executivos não falam em números de investimentos, que ainda não estão fechados, mas eles não serão elevados, considerando que a adoção da nova estratégia demandará, em geral, adaptações à estrutura existente, portanto não exigindo maiores desembolsos pela companhia.
O olhar do Porto do Açu não é só para o mercado interno: a IHS Market projeta um gasto global da ordem de US$ 100 bilhões entre 2021 e 2030 com atividades de descomissionamento offshore.
Patel e Figueiredo salientam que o processo de descomissionamento não se restringe a plataformas de petróleo, podendo ser adotado pela indústria naval, com embarcações em fim da vida útil e que não tem no Brasil uma destinação adequada. Haja vista, por exemplo, a Baía de Guanabara (RJ), apontam os executivos, que se tornou um cemitério de navios. Patel salienta que estruturas para desmantelar navios e plataformas estão em regiões como Estados Unidos, Mar do Norte, Mediterrâneo e Ásia, mas não no Atlântico Sul.
Em novembro de 2022, uma embarcação que estava ancorada na Baía de Guanabara, soltou-se de suas amarras e atingiu a Ponte Rio-Niterói, causando transtornos na hora do rush em duas das principais cidades do Rio.
“O mercado [de marinha] mercante não tem suporte no Atlântico Sul. Esse padrão ambiental não é mais aceito e isso reforça uma indústria que vai tratar de forma adequada”, afirmou Patel.